quinta-feira, 15 de novembro de 2018

AS CHEIAS




A partir do mês de maio ocorriam as enchentes, antes as chuvas eram abundantes e comemoravam-se os festejos juninos com fartura, os pescadores com muito dinheiro no bolso e eram regados a camarão, e grande, tinha até pitús, os pescadores vinham com os cofos abarrotados, todas as manhãs as baciadas cheias de camarão fazia a alegria das famílias para tratar e depois torrar no fogo de lenha com água e sal. Falando nisso me veio à lembrança de personagens de nossa Aguada, seu Marcelino, Ninha, Ataniel que montado em seus burros com caçuas grandes recolhia para revender nas feiras das cidades como Maruim, Capela e Aracaju. Eu adoro e quem não gosta de comer camarão torradinho com a nossa farinha de mandioca. Já ralei muito coco para comer na moqueca. Gosto dele de todas as formas de preparo, no quiabo ou maxixe, no manjogome ou com mamão verde.
Tempos bons, as cheias, depois das primeiras chuvas as candungas e os carás de beira apareciam, as moquecadas eram feitas. Em 2010 matei as saudades, em pleno São João estava em Aguada com a minha família brincando batalhão, me fizeram um convite para comer uma moqueca, topei na hora, pois peixe também é meu ponto fraco, e o amigo Coleto arrumou logo duas, uma de candunga e outra de mussum, muitos que estavam comigo, no inicio não queriam, eu pedi que experimentassem, e todos adoraram, ficaram querendo mais.
Eu subia os altos da Pedra Cal ou da Tabua para ficar apreciando. Quanta água nas vargens, era um imenso mar, no céu víamos muitos pássaros. Muita grandeza, a caça das marrecas e galo d'água se destacava, já comi muitas torradas na banha de porco.
Hoje vemos tudo diferente, qual o motivo de tanta mudança? A poluição, estamos destruindo tudo que a natureza nos oferece de graça. Os nossos rios e riachos não foge à regra, sendo atingido por esse mal, antes eram a Petrobrás que derramava óleo, deixando os peixes com gosto de gás, hoje são os canaviais que poluem e as cidades que despejam todos os dejetos, sem esquecer que a Vale do Rio Doce também joga resíduos perto das três pontes em Rosário do Catete. Fico triste em ver cheios de vegetação. A maioria das pessoas de nossa região procuram outros meios de ganhar dinheiro nas firmas que prestam serviços a Petrobrás, e com isso estão acabando as pescarias de redinhas, jererés, os ternos, estes não existem mesmo, essa última limpava mesmo os rios, tirando toda a vegetação.