sábado, 6 de abril de 2013

ARIOSVALDO GONÇALVES GOMES - ARI

ARIOSVALDO GONÇALVES GOMES - ARI


 Chegou em Carmópolis em 1964 para trabalhar na Petrobras no primeiro concurso aberto pela empresa, com o objetivo de melhorar o nível cultural de seus antigos funcionários.
Ficou  acampado na cidade de Maruim, onde a sonda estava localizada. Após mudar de equipe seguiu a Carmópolis, onde todos gostaria de ficar naquela época devido as peladas de futebol, no campo do 16 de outubro. Em 1965 atuando pelo time de peladeiro da Petrobrás, logo foi convidado para jogar no 16 de outubro, através de Manoel Joventino Magalhaes, conhecido como sr. Dunga que era patrono do clube, mas não atuou pelo 16 porque a Petrobrás também formara um clube com os funcionários. Dai em diante começou a se identificar com o povo de Carmópolis. Segundo Ari, só conhecia Carmópolis quando passava de trem até Propriá com destino a Neópolis.
Já radicado em Carmópolis, por meados dos anos 70, começou acompanhar a politica de perto, e observou que o povo não tinha opção de escolha nas eleições municipais. Apenas um só candidato se apresentava e era referendado nas urnas sem oposição. Naquela época os vereadores não tinham salário, trabalhavam de graça. Eram verdadeiros abnegados.
Em 1972 a pedido do Dr. Guido Azevedo, fundou a oposição em nossa cidade, através do Partido: MDB. Época muito difícil de se fazer oposição, pois os políticos daquela época eram subservientes às ordens vindas da Usina Oiteirinhos.
Em 1974 foi feita a primeira convenção do Partido na casa do Sr. Arnaldo Pimentinha, naquele ano, Ari pedira votos nas eleições estaduais para os candidatos: Dr. Guido e José Carlos Teixeira. Parecia que a politica estava no sangue, pois já tinha trabalhando em campanha politica em Guarujá-SP. Logo, Ari foi ganhando adeptos da oposição e começava fazer reuniões em casas de pessoas que queriam mudanças. Pessoas como Dona Maria José Santiago e do Senhor Joaquim Teles de Araújo, o famoso Joaquim Ferreiro “Ferro dentro”, na ocasião sua filha dona Beatriz era vereadora da Arena que protestava bastante.
Em 1976 já com o Diretório do MDB regularizado, foi apresentado o nome do Sr. Bega Amaral comerciante do município para ser candidato a prefeito, mas devido a muitos protestos e pressões, renunciou sua candidatura para não ter seu comercio prejudicado. Foi dai então que o Ari, se encorajou e assumiu definitivamente a oposição ao lado de outras lideranças como Geraldo Matos (Peninha) e Antônio Amâncio, que foram eleitos vereadores. Naquela época era muito difícil lutar contra o poder, eleições com sub-legendas e votos vinculados, dificultava bastante a eleição, pois o eleitor teria que votar em todos os candidatos do mesmo partido, ou seja se votasse no prefeito de um partido só podia votar num vereador do mesmo partido.
Pasmem os senhores. Sem fogão a gás as pessoas de Carmópolis e Aguada tinham que pegar lenhas nas matas do Oiteirinhos, e os feitores e capatazes só deixavam pegar se fossem do mesmo lado politico dos seus patrões. Além dos terrenos que eram distribuídos para se fazer roça a pressão era a mesma. Quem era do lado dos coronéis colhiam mandioca e milho, quem não fossem passavam dificuldades. Já existia compra de votos indiscriminadamente, e essa luta da oposição era contra o poder econômico. Só fazia oposição naquela época quem tinha coragem mesmo.
Vendo as necessidades do povo carente, Ari iniciou um trabalho social nas comunidades, naquela época conhecidas como senzalas de Oiteirnhos, Vai quem quer, Jericó, Poções, Mercê de Baixo, Mercê de Cima, Panelas e Mangueiras e com alguns amigos levam ajudas da Petrobrás aquelas pessoas.
Ari tinha um carro velho de som com duas cornetas uma pra frente e outra pra trás e  fazia muita suada nos comícios. Foi também responsável em trazer o primeiro trio elétrico pra nossa cidade, as pessoas ficaram abismadas, pois só ouvia falar de trio na Bahia. Ari formou um verdadeiro batalhão de amigos que queriam mudanças, em Carmópolis: Marlene Amâncio, Álvaro Augusto da Silva, Dona Bite, Boi de Barro, Zé Ramos conhecido como Passo Longo, Zé Barreto Bomfim (Zé rato), Joaquim Ferreiro, Zé Bidinho conhecido como “40” entre outros. Em Aguada, Otoniel Pereira dos Santos, Marizete Siqueira do Treme, Dona Maria Ramos, Simião Siqueira Gois, Professora Margarida, Professora Carminha, Marileide, Paulo de Jesus entre outros.
Foi em 1976 que Ariosvaldo o ARI participou pela primeira vez de uma campanha como candidato a prefeito, pelo MDB e o grupo da situação comandada pelos donos do Oiterinhos, lançaram dois candidatos contra Ari. Volney Leite Alves e José Fontes Barreto-Barretinho pelo partido da Arena. Mesmo assim Ari foi o mais votado, não assumiu, porque juntaram os votos da arena I e II e mesmo assim a diferença foi menos de 50 votos. Assumiu então Volney Leite que obteve mais voto do que Barretinho, e governou Carmópolis por seis anos.
Em 1982, Ari construiu um trio elétrico, que foi apelidado com o ARIZÃO. Com o trio eletrico, Ari ganhava força e mais amigos, nos comícios além do Trio Arizão, contava também com a batucada de Jadinho, que também foi vereador da oposição. Na eleição desse ano, o MDB ja era PMDB e a Arena já era PDS. E Ari mais uma vez foi para uma campanha desleal enfrentando três adversários, Gileno Alves de Melo, Roberto Sobral e Gilbertinho Amaral de uma mesma sigla da sublegenda PDS. Mas uma vez Ari foi o mais votado, mas não assumiu, e a soma dos três candidatos juntos deram a vitória a Gileno Alves que governou Carmópolis também por seis anos.
Em 1988 Ari seria candidato mais uma vez a prefeito. Nesse ano foi acabada a sublegenda para prefeito, quem tivesse mais voto seria eleito. Depois de muita luta durante todos esses anos Ari se via sem apoio necessário para decolar sua candidatura. Houve muita pressão politica, pois um dos candidatos a prefeito era Volney leite, e Albano Franco que já tinha se comprometido em apoiar Ari, recuou e apoiou Theotônio Neto, que volta pra Carmópolis para ser candidato a prefeito com apoio do então prefeito Gileno e das lideranças estaduais. Ari então recuou e como alento foi ser diretor administrativo do Detran/SE, que também mostrou competência os anos que ali trabalhou.

A POESIA DE JOSÉ SAMPAIO

A POESIA DE JOSÉ SAMPAIO


GILFRANCISCO: jornalista, professor da Faculdade São Luís de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico. gilfrancisco.santos@gmail.com



O poeta José Sampaio é um eterno estranho no ninho sergipano. A clareza da linguagem de sua obra é a poética da liberdade e da transgressão, que expõe contradições e paradoxos, está dotada de uma fúria verbal que se manifesta em versos como quem morre. Recentemente, durante o lançamento dos livros Dios Ensangrentado e Crepúsculo de Esplendores, do poeta Santo Sousa, lançados em 2 de junho, no salão do Residencial Emanuel Fonseca, belíssimo evento com recital de poesia e música, conheci Danilo Sampaio, filho do poeta, apresentado por Amaral Cavalcanti. O teor da conversa foi literatura e acabamos na obra de José Sampaio e ele me confidenciou o desejo em ver a obra do pai, numa edição didática, preparada para estudantes.
O historiador e pesquisador Jackson da Silva Lima, incansável pesquisador da literatura sergipana, sem dúvida, é o descobridor do poeta sergipano José de Aguiar Sampaio (1913-1956), pois a ele coube organizar e anotar dois livros importantes para a divulgação e compreensão de sua obra: Esparsos e Inéditos de José Sampaio, 1967, e Poesia & Prosa, 1992, ambos esgotados.
José Sampaio é um poeta de grandeza incontestável, que elaborou uma obra singular, requintada, extremamente rica em imagens e de vigorosa construção, referência fundamental no cenário literário sergipano. Sampaio produziu poesia como processo de iluminação ou poética iluminada pela lucidez. Sua poesia caracteriza-se por uma reafirmação da imagem, do mundo como imagem, pelo fato de ser uma poesia de significados e não de signos, uma poesia original, de profundo sentimento humano.
Latente, onde exercita o ofício de contenção, com o objetivo de ultrapassar o lirismo e a musicalidade de seus versos. Com muitas associações de imagens e simultaneidade, a linguagem coloquial, produziu sempre uma poesia simples. Em linhas gerais, busca a estrutura da linguagem e da realidade representada, do núcleo temático.
Em sua obra poética, de versos espontâneos, fluentes, sentimos o gemer de uma dor, a agonia de uma alma enferma. O poeta viveu numa época de desafios cotidianos, que necessitava enfrentar esse desafio enquanto vivia, tanto no plano pessoal como profissional.
Tudo, porém, cheio de nobreza, expresso num estilo gracioso. Nos seus textos apresentados estão, presentes sua alma e angústia, pois sua obra é dotada de sensibilidade apurada, de imaginação fertilíssima. O poeta José Sampaio produz o texto como sente, num equilíbrio entre a inspiração e a expressão, entre a beleza que o rodeia e a beleza da realidade, tudo isso acentuado de um penetrante espírito de observação.
Um poeta interessado no ideal de justiça para todos os homens, procurando sempre estimar os humildes nos seus poemas e na prática diária de seus atos. Foi um poeta social, comovido com os sofrimentos do povo, como poeta e como homem. Militou na poesia social, cuja temática centrasse na denúncia dos problemas, das desigualdades sociais do país, inclusive colaborando, em 1938, na revista baiana Seiva, ligada ao Partido Comunista.
O “poeta dos humildes” nasceu na então Vila do Carmo, hoje cidade de Carmópolis, em 2 de maio de 1913, sendo seus pais Gaspar Leite Sampaio e Honorina de Aguiar Sampaio, ambos pertencentes à classe média.
Cursa as primeiras letras em sua cidade natal e, nos anos 20, em Riachuelo, para onde seus pais se transferem. Nos meados de 1930, José Sampaio freqüenta a redação dos jornais riachuelenses Poliauto e O Riachuelo, tornando-se diretor-secretário do primeiro. Neste mesmo ano, juntamente com José Menezes e Alfredo Sampaio, integra a Comissão de Ornamentação do Cine-Teatro Riachuelense para a parte literária da festa dedicada ao Dia do Crisântemo.
Em princípio de 1932, encontra-se residindo em Capela, onde se estabelece com uma casa comercial. Um ano depois, transfere-se para a capital e passa a trabalhar no comércio, além de ser revisor e gerente de vendas do jornal A República.
Estabelecido em Aracaju, trava conhecimento com jornalistas, intelectuais de esquerda, líderes estudantis e sindicais, avançando nos seus ideais progressistas. Participa da vida cultural intensa, das rodas literárias e da boemia, freqüenta as redações dos jornais e se torna habitué dos bares e cabarés. É eleito, em 1936, suplente do Conselho Fiscal da Associação Sergipana de Imprensa, quando também colabora assiduamente em vários jornais estudantis ou alternativos.
Graças à atividade de caixeiro-viajante, a qual desempenhou até 1945 (ano em que se casa com Jaci Conde Dias e juntos tiveram os filhos Danilo e Liana), percorre todo o Estado de Sergipe, estabelecendo contato direto com a gente do interior.
No final da década de 40, transfere-se com a família para a cidade baiana de Feira de Santana, onde compra um armarinho e participa das atividades culturais. No início de 1954, visita Aracaju a convite do escritor José Augusto Garcez (1918-1992) e trouxe os originais do livro Nós Acendemos as Nossas Estrelas, publicado meses depois.
No ano seguinte, agravam-se os sintomas da doença que o levaria à sepultura. Vai ao Rio de Janeiro e a São Paulo em busca da cura, mas o esforço é inútil: José Sampaio faleceu em Aracaju a 4 de abril de 1956, vítima de câncer.
A sua bibliografia, de grande importância para a literatura sergipana, é formada pelos títulos Nós Acendemos a Nossas Estrelas, Aracaju, Movimento Cultural de Sergipe, 1954; Obras Completas de José Sampaio, Aracaju, Livraria Regina/Movimento Cultural de Sergipe, 1956; Esparsos e Inéditos de José Sampaio, Aracaju, Nova Editora de Sergipe, 1967 e Poesia & Prosa, Aracaju, Sociedade Editorial de Sergipe, 1992.
Apesar do grande significado e valor estético de sua obra, José Sampaio ainda não tem proclamado, na dimensão devida, o reconhecimento da importância de sua poesia, que não aconteceu no cenário nacional, a exemplo de conterrâneos como João Ribeiro, Sílvio Romero, Tobias Barreto e Jackson de Figueiredo.
Confira alguns dos seus poemas, cujo meu primeiro contato foi através do cineasta baiano Olney Alberto São Paulo (1936-1978), de quem fui seu assistente no filme Festa de São João no Interior da Bahia, dirigido por Guido Araújo, através do artigo A Morte de um Poeta, por ele escrito e publicado n’O Coruja, 27, maio, 1956, em Feira de Santana.
Dia que vem — 1935
Gente
passando a mão no rosto
para afastar o sangue
dos olhos vermelhos,
para avançar.
O velho imprestável
rejuvenesceu
pra grande luta
libertadora.
Na confusão,
a própria consciência
do grande ideal
morreu afogada
no sangue dos homens.
Agora a alegria
de querer matar
é o medo inconsciente
de morrer primeiro.
A tragédia sorrindo
um sorriso trágico.
Há risadas mudas
nas bocas mortas.
Que coisa impossível:
a dor cantando
o poema alegre
da liberdade.
E a nação
ressuscitará
sobre o montão
das pessoas mortas.
E se for mentira
a ressurreição?

A marcha das lágrimas — 1936
Continuou quebrando a paz da vida,
mãos alevantadas como gritos,
olhos alarmantes como a fome.
Onde estavam
a beleza da terra
e a alegria da felicidade?
As estradas
estavam avermelhadas
dos pés humanos que sangraram.
E toda aquela gente
morria de cansaço
atrás da paz e da beleza
porque
em proporção que acelerava a marcha
as estradas cresciam
na mesma crueldade inconsciente.
Mas uma mão estranha
acalentava a dor daquele povo.
Parece
que uma cidade santa
nascia nos sentidos
pois
os mais felizes que tombavam logo
morriam fitando com inveja
a marcha gloriosa.
Primeiro o pensamento
tinha feito a viagem
e a cidade existia
grande como um sorriso.
A paz
embalaria aquele povo.
A graça voltaria nas mulheres
e o amor constituiria
o sossego dos velhos
e a felicidade dos moços.
E brinquedos bonitos
acordariam a alegria dos meninos.
Entretanto,
os ritmos da caminhada
rolavam pelos caminhos
no mesmo rumor de choro
como línguas vivas.

A revolução das ruínas
O rumor que veio desta lembrança
amedrontou meu silêncio.
No meu modo de ver, pelo menos agora,
as ruínas se revoltaram debaixo dos edifícios novos.
São lembranças estranhas
de tudo que ficou debaixo do mais forte.
Há um sofrimento infinito nestes seres pisados,
mas não há choro nesse clamor subterrâneo.
As grandes dores
geram a alegria trágica do ódio.
É a decadência querendo levantar-se
para ressuscitar
na glória de suas causas de palha,
na felicidade dos seus homens brutos
e na alegria de sua antiga liberdade.
Geração que foi enterrada
querendo romper o túmulo dos arranha-céus
para apagar
todas as luzes da civilização.
A luta rasteirado que caiu
para nunca mais levantar.
Revolução infeliz,
tão infeliz que não morre
para viver das derrotas.
Luta impossível
contra o indiferentismo do tempo
e a ironia espontânea do progresso.
Meu pensamento, agora,
é a lembrança estranha
deste profundo anseio de liberdade
que estremece a cova das ruínas.
(1936)
Sarjeta
Eu olhei muito a sarjeta,
a água correndo mansa e clara,
sorrindo no cristal dos caracóis.
Mas, eu vi lá no fundo
a tristeza do lodo
cobrindo o chão de luto.
E me lembrei tanto da humanidade.
Por que é que não limparam
o fundo das sarjetas?
(1936)
As ruas
A palavra precisa ser simples,
como água,
ao alcance de qualquer ouvido.
Do ouvido das ruas,
porque as ruas possuem a maior força
e não chega uma voz despertando.
Mas quando as coisas foram ditas
na linguagem simples do povo,
as ruas não suarão tanto, inutilmente.
(1942)